Como É A Iniciação De Orixá Na Africa
Como É A Iniciação De Orixá Na Africa
O conteúdo a seguir relata como é diferente o culto do orixá entre os Candomblés Brasil e a iniciação de Orixá na Africa, relatando como uma pessoa é indicada para ser iniciada dentro do santo, os métodos podem ser até parecidos, mas vocês irão reparar que a diferença começa desde a nascimento daquele que será apontado para dar início a religião de nossos ancestrais, e foi dividido para melhor entendimento em 3 partes a fonte desse texto é do grande Pierre Fumbi Verger.
Na região ioruba, a iniciação de um Elegun (aquele que pode ser “montado” , possuído, pelo orixá) não apresenta problemas. Geralmente ele foi indicado para desempenhar esse papel por ocasião do seu nascimento, pela adivinhação, quando seus pais consultaram um babalaô para conhecer o destino do recém nascido. O futuro Elegun, muito cedo, geralmente aos sete anos de idade, é confiado a um sacerdote do orixá. Em se tratar de Xangô, irá para a casa de um Mógbá Xango, de um Elegun Xangô ou, ainda, de uma Ìyá xàngó para viver na atmosfera do culto do deus.
Em certas regiões nagô , como Saketê ou Ifanhim, ou mesmo em terras estranhas aos iorubas, como Uidá entre os hweda, há egbé Xangô poderosos, sociedades que reúnem todos os adeptos do deus, onde os futuros Elegun fazem sua iniciação em grupos mais ou menos numerosos.
Tivemos oportunidade de acompanhar as diversas fases dessas cerimônias para grupos de dezoito Elegun em Ifanhim, onde o egbé não conhece fronteiras (anglo-francesa outrora, nigeriano beninesa atualmente); seis em Uidá e dois em Saketê; assim como na Bahia, onde é idêntico o ritual seguido.
De um lado e outro do oceano Atlântico, as cerimônias de consagração dos novos Elegun Xangô duram dezessete dias. Na África, elas começam e terminam num dia dedicado a este orixá, da semana ioruba de quatro dias. Elas têm início, por razões que ignoramos, no momento o mais próximo possível do primeiro quarto da lua, para terminarem na época do último quarto.
Algumas vezes, pode haver variações nos detalhes do ritual, mas a sequência geral das diversas partes de uma iniciação é a mesma.
Em Saketê, por exemplo, era preciso substituir um Elegun Xangô já falecido e, antes de iniciar a cerimônia, foi necessário consulta a alma do morto para obter seu consentimento e sua concordância com a escolha de um novo eleito.
Essa consulta foi feita por um pequeno grupo, de aproximadamente vinte pessoas da família, à meia noite mais ou menos, ao ondo de uma estrada deserta, um pouco fora da cidade. As mulheres pararam em uma ponte sobre um pequeno rio. Os homens continuaram seu caminho até cerca de cem metros mais a diante. Um deles, um tal Olelé, derramou no chão água e azeite de dendê, colocou por cima nozes de cola e galos vivos, amarrados pelos pés. Oládélé gritou um nome, alongando cada sílaba ao máximo, e suplicou:
“Wá gbà awn erù re,
Ki fi omo wa silè fún wa
Ki òsà á gbé wa“
(“Vem buscar tuas oferendas
Deixa-nos teu filho na terra
Para que o orixá nos proteja” ).
De longe, ouviram-se gritos prolongados: “O o o o o o o o o” . Era Baba Egúngún que respondia. Todos os presentes, ajoelhados, pediram-lhe para vir ao encontro deles. Perceberam uma sombra aproximado-se na escuridão. Olelé avançou em sua direção e deu-lhe as nozes de cola e os galos. O espírito gritou três vezes: Mo gbà a ( “ Eu aceito” ), e acrescentou: E jê mba ndélé [“ Venham comigo para casa (no além)” ]. Os presentes recusaram: E béò! A pò lébìn, mde o wà láàrin wa (“ Não! Há muita gente depois de nós, há crianças entre nós” ). Baba Egúngún insistiu. Oládélé pegou então uma panela de barro e jogou-a violentamente no chão, onde ela se desfez em pedaços. Todos fugiram para a cidade, perseguidos por um curto espaço de tempo e sem muita firmeza por Baba Egúngún.
No dia seguinte, começavam a iniciação dois novos Elegun. Um deles ia substituir o sacerdote morto, cuja alma acabava de ser consultada. O Xangô da família encontraria, assim, outro de seus descendentes em quem se encarnar durante as cerimônias organizadas em seu louvor.
Os futuros elégùn vão para o local de sua iniciação alguns dias antes do início das cerimônias. Sua consagração ao orixá pode se realizar em um templo já existente, na cidade ou em uma roça das redondezas, ou então em um novo local que deverá ser sacralizado. Em todos esses casos, deverá ser reservado um lugar privado, onde deverá viver os noviços, próximo ao local onde se realizarão as cerimônias públicas. Esse lugar, às vezes chamado “ convento“ por alguns autores, tem o nome de igbó ikú, “ a floresta da morte” . Pode ser um simples quarto de uma casa ou um grande recinto cercado, permanente ou transitório, atrás do pátio da roça, onde os iniciados vão viver durante os dezessete dias de sua reclusão, protegidos das intempéries por um simples tapume de palha trançada.
A permanência na igbó ikú simboliza a passagem para o além, entre a antiga existência profana e a nova, consagrada ao deus. Desde sua entrada nesse lugar, os noviços são obrigados a fazer abluções e tomar beberagens vegetais, feitas com a infusão de certas folhas, cascas e raízes dedicadas ao orixá,
iguais às que serviram à preparação do odù do orixá, descrito pó Epega, reforçando assim a ligação entre este e seu futuro elégùn.
Essas beberagens e abluções, que contêm o à, a força do deus, parecem exercer uma ação sobre o cérebro dos iniciados e contribuir para deixa-los num estado de entorpecimento e de sugestionabilidade que fará deles criaturas dóceis e aptas à consagração.
Na noite que precede o começo das cerimônias de realização realiza-se o àìsùn (“ não dormir” ), a vigília noturna, durante a qual os participantes da festa chegam em pequenos grupos, cumprimentam-se uns aos outros, falam das últimas novidades, sentam-se aqui e ali, descansam e bebem alegremente
vinho de palma, meu, ou de álcool abatido por destilação, tí.
No decorrer das iniciações observadas para Xangô, encontravam-se presentes os Mógbá Xangô, aqueles responsáveis pelo bom andamento do culto e guardiões do axé. Caracterizam-se por não entrarem em transe como os elégùn. A Ìyá àngó do lugar ou Ìyá Egbe, a “mãe da comunidade” , encontra-se também presente. É ela quem transmite o axé aos novos elégùn.
Uma das iniciações observadas foi realizada num local ainda não consagrado. Foi preciso prepara-lo, pois, no dia seguinte, seria realizado o batismo de sangue dos noviços. Cavaram um buraco no chão e vários elementos foram ali despejados: a infusão das plantas, de que já falamos, o sangue e as cabeças de um galo e de um pombo sacrificados sobre o buraco; foram acrescentados elementos calmantes: limo da costa, Ori; azeite-de-dendê, epo pupa; o líquido que escorre da casca esmagada de um caracol, Ibin (caramujo); e, ainda, quatro espécies de pós-pretos obtidos pela calcinação de vários elementos; e, por fim, nozes de cola de duas espécies chamadas Obi e Orobó.
O buraco foi tapado, devidamente marcado com alguns búzios e coberto com um esteira. Neste lugar exatamente, será colocado, no dia seguinte, um pilão, odó, emborcado, que servirá de assento aos noviços para seu batismo de sangue (BORI).
Dando continuidade ao texto de como é uma feitura de santo na África (iniciação de Orixá) iremos falar do Orìxíxe “O primeiro dia dentro do ritual” (“ cumprir a tradição” ), termo correspondente ao sundide de origem fon, significado “ primeira saída dos iniciados” , empregado nos trabalhos precedentes.
Na região ioruba, a iniciação de um Elegun (aquele que pode ser “montado” , possuído, pelo orixá) não apresenta problemas. Geralmente ele foi indicado para desempenhar esse papel por ocasião do seu nascimento, pela adivinhação, quando seus pais consultaram um babalaô para conhecer o destino do recém nascido. O futuro Elegun, muito cedo, geralmente aos sete anos de idade, é confiado a um sacerdote do orixá. Em se tratar de Xangô, irá para a casa de um Mógbá Xango, de um Elegun Xangô ou, ainda, de uma Ìyá xàngó para viver na atmosfera do culto do deus.
Em certas regiões nagô , como Saketê ou Ifanhim, ou mesmo em terras estranhas aos iorubas, como Uidá entre os hweda, há egbé Xangô poderosos, sociedades que reúnem todos os adeptos do deus, onde os futuros Elegun fazem sua iniciação em grupos mais ou menos numerosos.
Tivemos oportunidade de acompanhar as diversas fases dessas cerimônias para grupos de dezoito Elegun em Ifanhim, onde o egbé não conhece fronteiras (anglo-francesa outrora, nigeriano beninesa atualmente); seis em Uidá e dois em Saketê; assim como na Bahia, onde é idêntico o ritual seguido.
De um lado e outro do oceano Atlântico, as cerimônias de consagração dos novos Elegun Xangô duram dezessete dias. Na África, elas começam e terminam num dia dedicado a este orixá, da semana ioruba de quatro dias. Elas têm início, por razões que ignoramos, no momento o mais próximo possível do primeiro quarto da lua, para terminarem na época do último quarto.
Algumas vezes, pode haver variações nos detalhes do ritual, mas a sequência geral das diversas partes de uma iniciação é a mesma.
Em Saketê, por exemplo, era preciso substituir um Elegun Xangô já falecido e, antes de iniciar a cerimônia, foi necessário consulta a alma do morto para obter seu consentimento e sua concordância com a escolha de um novo eleito.
Essa consulta foi feita por um pequeno grupo, de aproximadamente vinte pessoas da família, à meia noite mais ou menos, ao ondo de uma estrada deserta, um pouco fora da cidade. As mulheres pararam em uma ponte sobre um pequeno rio. Os homens continuaram seu caminho até cerca de cem metros mais a diante. Um deles, um tal Olelé, derramou no chão água e azeite de dendê, colocou por cima nozes de cola e galos vivos, amarrados pelos pés. Oládélé gritou um nome, alongando cada sílaba ao máximo, e suplicou:
“Wá gbà awn erù re,
Ki fi omo wa silè fún wa
Ki òsà á gbé wa“
(“Vem buscar tuas oferendas
Deixa-nos teu filho na terra
Para que o orixá nos proteja” ).
De longe, ouviram-se gritos prolongados: “O o o o o o o o o” . Era Baba Egúngún que respondia. Todos os presentes, ajoelhados, pediram-lhe para vir ao encontro deles. Perceberam uma sombra aproximado-se na escuridão. Olelé avançou em sua direção e deu-lhe as nozes de cola e os galos. O espírito gritou três vezes: Mo gbà a ( “ Eu aceito” ), e acrescentou: E jê mba ndélé [“ Venham comigo para casa (no além)” ]. Os presentes recusaram: E béò! A pò lébìn, mde o wà láàrin wa (“ Não! Há muita gente depois de nós, há crianças entre nós” ). Baba Egúngún insistiu. Oládélé pegou então uma panela de barro e jogou-a violentamente no chão, onde ela se desfez em pedaços. Todos fugiram para a cidade, perseguidos por um curto espaço de tempo e sem muita firmeza por Baba Egúngún.
No dia seguinte, começavam a iniciação dois novos Elegun. Um deles ia substituir o sacerdote morto, cuja alma acabava de ser consultada. O Xangô da família encontraria, assim, outro de seus descendentes em quem se encarnar durante as cerimônias organizadas em seu louvor.
Entrada Do Iniciado No Igbó Ikú
Os futuros elégùn vão para o local de sua iniciação alguns dias antes do início das cerimônias. Sua consagração ao orixá pode se realizar em um templo já existente, na cidade ou em uma roça das redondezas, ou então em um novo local que deverá ser sacralizado. Em todos esses casos, deverá ser reservado um lugar privado, onde deverá viver os noviços, próximo ao local onde se realizarão as cerimônias públicas. Esse lugar, às vezes chamado “ convento“ por alguns autores, tem o nome de igbó ikú, “ a floresta da morte” . Pode ser um simples quarto de uma casa ou um grande recinto cercado, permanente ou transitório, atrás do pátio da roça, onde os iniciados vão viver durante os dezessete dias de sua reclusão, protegidos das intempéries por um simples tapume de palha trançada.
A permanência na igbó ikú simboliza a passagem para o além, entre a antiga existência profana e a nova, consagrada ao deus. Desde sua entrada nesse lugar, os noviços são obrigados a fazer abluções e tomar beberagens vegetais, feitas com a infusão de certas folhas, cascas e raízes dedicadas ao orixá,
iguais às que serviram à preparação do odù do orixá, descrito pó Epega, reforçando assim a ligação entre este e seu futuro elégùn.
Essas beberagens e abluções, que contêm o à, a força do deus, parecem exercer uma ação sobre o cérebro dos iniciados e contribuir para deixa-los num estado de entorpecimento e de sugestionabilidade que fará deles criaturas dóceis e aptas à consagração.
Àìsùn: A Noite Do Inicio Dos Fundamentos
Na noite que precede o começo das cerimônias de realização realiza-se o àìsùn (“ não dormir” ), a vigília noturna, durante a qual os participantes da festa chegam em pequenos grupos, cumprimentam-se uns aos outros, falam das últimas novidades, sentam-se aqui e ali, descansam e bebem alegremente
vinho de palma, meu, ou de álcool abatido por destilação, tí.
No decorrer das iniciações observadas para Xangô, encontravam-se presentes os Mógbá Xangô, aqueles responsáveis pelo bom andamento do culto e guardiões do axé. Caracterizam-se por não entrarem em transe como os elégùn. A Ìyá àngó do lugar ou Ìyá Egbe, a “mãe da comunidade” , encontra-se também presente. É ela quem transmite o axé aos novos elégùn.
Uma das iniciações observadas foi realizada num local ainda não consagrado. Foi preciso prepara-lo, pois, no dia seguinte, seria realizado o batismo de sangue dos noviços. Cavaram um buraco no chão e vários elementos foram ali despejados: a infusão das plantas, de que já falamos, o sangue e as cabeças de um galo e de um pombo sacrificados sobre o buraco; foram acrescentados elementos calmantes: limo da costa, Ori; azeite-de-dendê, epo pupa; o líquido que escorre da casca esmagada de um caracol, Ibin (caramujo); e, ainda, quatro espécies de pós-pretos obtidos pela calcinação de vários elementos; e, por fim, nozes de cola de duas espécies chamadas Obi e Orobó.
O buraco foi tapado, devidamente marcado com alguns búzios e coberto com um esteira. Neste lugar exatamente, será colocado, no dia seguinte, um pilão, odó, emborcado, que servirá de assento aos noviços para seu batismo de sangue (BORI).
Dando continuidade ao texto de como é uma feitura de santo na África (iniciação de Orixá) iremos falar do Orìxíxe “O primeiro dia dentro do ritual” (“ cumprir a tradição” ), termo correspondente ao sundide de origem fon, significado “ primeira saída dos iniciados” , empregado nos trabalhos precedentes.
Nesse dia, realizam-se duas cerimônias: anlodò e afèjèwè.
Cedo, pela manhã, realiza-se o que se chama Anlodò(“ vamos ao riacho” ), quando os noviços, homens e mulheres, saem da igbó ikú. Eles caminham, um atrás do outro, no estado de entorpecimento do qual falamos anteriormente. Um grande pano branco, àlà, é mantido sobre suas cabeças; estão todos vestidos de panos esfarrapados e entram no recinto consagrado a Xangô, onde cada um deles recebe uma jarra contendo infusão de folhas dedicadas ao orixá.
Quando saem dali Ìyá Xangô e algumas iniciadas já antigas colocam sobre a cabeça dos futuros Elegun uma rodilha de fibras, usadas na África como esponjas vegetais. Em cada uma dessas rodilhas foram presos uma fileira de búzios e um pintainho de alguns dias, amarrado pelos pés. As jarras são colocadas por cima Ìyá Xangô e suas ajudantes. Elas têm o cuidado de coloca-las três vezes seguidas, antes de deixa-las ali. A fila de noviços forma-se de novo e dirige-se, acompanhada pelas mulheres encarregadas da iniciação e por um conjunto formado de atabaques bàtá ou de cabeças agbè. Esse pequeno grupo dirige-se a um riacho, ou uma lagoa, situado no meio de uma floresta sagrada da vizinhança. Os noviços vão com o corpo inclinado para frente e a cabeça levantada para manter o equilíbrio da jarra. Caminham dançando, seguindo o ritmo dos atabaques, e de vez em quando esboçam alguns passos mais firmes, com os joelhos dobrados. Muitas vezes, um Elegun de Exu precede o cortejo para que nada de desagradável aconteça.
Anlodò (Indo As Águas)
Cedo, pela manhã, realiza-se o que se chama Anlodò(“ vamos ao riacho” ), quando os noviços, homens e mulheres, saem da igbó ikú. Eles caminham, um atrás do outro, no estado de entorpecimento do qual falamos anteriormente. Um grande pano branco, àlà, é mantido sobre suas cabeças; estão todos vestidos de panos esfarrapados e entram no recinto consagrado a Xangô, onde cada um deles recebe uma jarra contendo infusão de folhas dedicadas ao orixá.
Quando saem dali Ìyá Xangô e algumas iniciadas já antigas colocam sobre a cabeça dos futuros Elegun uma rodilha de fibras, usadas na África como esponjas vegetais. Em cada uma dessas rodilhas foram presos uma fileira de búzios e um pintainho de alguns dias, amarrado pelos pés. As jarras são colocadas por cima Ìyá Xangô e suas ajudantes. Elas têm o cuidado de coloca-las três vezes seguidas, antes de deixa-las ali. A fila de noviços forma-se de novo e dirige-se, acompanhada pelas mulheres encarregadas da iniciação e por um conjunto formado de atabaques bàtá ou de cabeças agbè. Esse pequeno grupo dirige-se a um riacho, ou uma lagoa, situado no meio de uma floresta sagrada da vizinhança. Os noviços vão com o corpo inclinado para frente e a cabeça levantada para manter o equilíbrio da jarra. Caminham dançando, seguindo o ritmo dos atabaques, e de vez em quando esboçam alguns passos mais firmes, com os joelhos dobrados. Muitas vezes, um Elegun de Exu precede o cortejo para que nada de desagradável aconteça.
As iniciadoras e os noviços são os únicos a penetrarem na floresta. Os músicos e as pessoas da escola param e esperam na proximidade. À beira do rio, ou da lagoa, fora construída uma pequena cabana de folhas de palmeira. No centro, fora cavado um buraco e coberto com alguns galhos, formando uma grade. A terra retirada da escavação fora deixada ao lado, em forma de montículo.
Cada noviço deve ficar de pé um após outro, em cima da grade improvisada sobre o buraco, e a jarra é colocada em cima do montículo. O iniciado é então despido e seus trapos são jogados no fundo do buraco. Seu corpo é lavado com a água contida na jarra e esfregado com a rodilha os búzios e o pintainho, que, não resistindo a esse tratamento, não demora a morrer. Tudo isso é depois jogado no buraco. A operação consiste, ao mesmo tempo, num sacrifício de substituição e de purificação das faltas que tivessem podido manchar o passado dos noviços. Assim, uma vez purificado, seu corpo é enxaguado com a água do riacho e vestido com um pano branco. Colocam-lhe na cabeça uma nova rodilha e a jarra contendo gora água do riacho. Quando o último dos noviços terminar essa obrigação, tornam a fechar, socando a terra com os pés. O abandono das roupas velhas, substituídas pelos novos panos brancos, é um símbolo da rejeição do passado e da passagem para uma vida nova dedicada ao orixá.
Afèjèwè (Iniciação Do Orixá Na África)
Durante o tempo em que os noviços foram realizar essa cerimônia de purificação, Mógbá Xangô e seus auxiliares foram ao local consagrado na véspera, prepara-lo para a realização do batismo de sangue dos neófitos, afèjèwè (“ lavamos com sangue” ). Algumas folhas são colocadas embaixo as esteira, posta no chão na noite anterior, e um pilão é emborcado em cima. Um muro de panos é mantido pelos auxiliares ao redor do local consagrado, para proteger dos olhares indiscretos à parte da cerimônia a ser realizada.Os noviços são levados, um após outro, para esse recinto. Estão no estado de entorpecimento mental a que já nos referimos. Cada um deles é amparado e guiado pelas iniciadoras até o pilão emborcado, onde é sentado e levantado duas vezes para só permanecer na terceira. A seus pés são colocados, sobre uma bandeira de madeira, um edùn àrá (machadinha de pedra ou pedra de raio), suporte do axé de Xangô, um facão e um éré (xeré), chocalho feito com uma cabaça alongada.
Os cabelos do iniciado são raspados e recolhidos em uma pano branco colocado em seu colo. São feitas incisões no alto do seu crânio, onde será colocado, depois, um òsù (oxu), do qual falaremos mais adiante.
Para cada noviço são sacrificados primeiro os animais: galos, pombos, tartarugas, galinhas-d´angola e caracóis. O sangue é derramado ao mesmo tempo sobre a cabeça do iniciado e sobre a machadinha de pedra, estabelecendo a ligação entre o futuro Elegun e Xangô.
Os corpos dos animais decapitados são apresentados ao noviço, que chupa um pouco do sangue; pode acontecer que ele aperte em seus dentes o pescoço do galo com tal força, que arranque um pedaço e mastigue, lentamente, por alguns momentos. Marca-se a cabeça do noviço, bem como o peito, as costas, os ombros, as mãos e os pés com o sangue dos animais sacrificados.
O ponto culminante da cerimônia de batismo de sangue é aquele em que um carneiro é sacrificado. Antes de imolar o animal, é costume dar-se-lhe para comer algumas folhas verdes de cajazeira. Mas, antes, as folhas são mostradas três vezes ao carneiro e tocadas levemente na cabeça do noviço. Da terceira vez, elas lhe são mostradas mais demoradamente e, em geral, o animal começa a devora-las. Se o carneiro não as comer ele é poupado e deverá ser substituído por outro. Logo que ele começa mastigar as folhas, a pedra de raio é introduzida à força em sua goela e seu focinho é amarrado fortemente. O carneiro é, então, degolado e o seu sangue é aparado em uma cabaça e derramada um parte no ojubó e outra na cabeça do noviço, escorrendo por todo o corpo. Em seguida, com as penas das aves sacrificadas, cobre-se a cabeça, o rosto e os diversos pontos de seu corpo, que foram marcados com sangue.
O espetáculo é impressionante e lembra um pouco o que se sabe a respeito dos “Mistérios de Cibele, onde o iniciado, deitado em uma cova, recebia sobre seu corpo o sangue de um touro ou um carneiro” . A cabeça do animal é separada do corpo, acima do noviço prostrado sobre o pilão. Acontece então que Xangô manifesta sua aceitação aos sacrifícios e à consagração do novo Elegun, apossando-se dele, “montando” (gùn) nele. O Elegun pega a cabeça do carneiro com as duas mãos, aproxima-a de seu rosto e aperta, entre os dentes, uma das artérias carótidas, para entregar-se, em seguida, a uma dança alucinante ao som das palmas e dos cantos dos presentes. A cabeça do carneiro, estreitamente ligada à do Elegun, balança ao ritmo da dança e parece, às vezes, mais viva que o rosto estupefato do noviço. Uma espécie de comunhão parece estabelecer-se entre eles, símbolo vivo do sacrifício de substituição que acaba de ser consumado.
Alguns momentos depois, o noviço senta-se de novo no pilão, descerra os dentes e solta a cabeça do animal sacrificado. Move-se ainda por uns instantes, fazendo girar o seu tronco e inclinando-o para frente e para trás. O êxtase atinge seu paroxismo e é logo seguido de um desfalecimento. O iniciado cai no chão, debatendo-se, e é logo levado para a igbó ikú.
A reação do noviço no batismo de sangue pode-se ser mais calma e sua volta a igbó ikú feita com mais serenidade. Ele, ou ela, torna-se um omo titun, uma “ criancinha” . Ele, ou ela é guiado por suas iniciadoras que, com solicitude, amparam seus passos ainda hesitantes. O iniciado continuará nesse estão, Omo titun, durante os dezessete dias de seu internamento na igbó ikú.
O grupo dos Omo titun encontra-se reunido dentro desse recinto. Deverão realizar, regularmente, suas abluções e tomar infusões vegetais. Passarão seus dias deitados em esteiras, cobertos de panos brancos. Um òù (oxu) é preso em sua cabeça, exatamente no lugar onde foram feitas as incisões do dia do batismo de sangue. Este òù é uma pequena bola, do tamanho de um ovo de pombo, feita de um aglomerado de folhas reservadas de Xangô, embebidas no sangue dos animais sacrificados, às quais acrescentam-se elementos de uso constantes nas oferendas: ratos (eku) e peixes (já), que simbolizam noções complementares como terra – água, masculinidade - feminilidade, esquerda – direita; pena de galo das Campinas (àlúko); de cuco (àgbe); de papagaio (odíde); de garça (lékeléke), cujo simbolismo é mais difícil de interpretar. Tudo isso é pilado e comprimido para formar o òù, cujo objetivo e sacralizar a cabeça do iniciado. Este será chamado, a partir daí, adoxù, que significa “ aquele que usou um óxù” , prova incontestável de sua iniciação.
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